Sempre fui um
pouco apática em relação ao amor. Sempre acreditei que amor era parte de uma
etapa quase inalcançável da existência humana. Poucos chegariam, de verdade,
até lá. Aquela história de amor à primeira vista, então, era algo inconcebível
na minha verdade mais absoluta.
Como poderia
ter fundamento olhar para um desconhecido e simplesmente amá-lo? Amar era algo
tão ímpar na vida, uma coisa tão excepcional, que surgir de tamanha
simplicidade era inaceitável. Tem pessoas que passam a vida buscando um amor.
Tem pessoas que vão morrer sem amar.
Não conseguia
ver o amor fora da esfera da complexidade. Não era questão de não acreditar.
Ele existia, mas estava lá no cume da montanha mais alta da vida esperando por
nossa difícil escalada. Com sorte, paciência e muita dedicação, um dia,
chegaríamos, ou não, lá.
Porém, a vida
esqueceu de me contar dois segredos. O primeiro, que nossas verdades absolutas
nem sempre são absolutas. O segundo, que a vida gosta de nos pregar peças, nos
fazendo cair em contradição.
Lembrei agora
dos trechos de uma música: “acho que era julho de 83/ eu sempre esqueço do dia,
mas lembro do mês”. Era julho. De 2011.
Não lembro do dia, mas lembro dele. Lembro de como ele estava vestido. Lembro
de como o cabelo estava arrumado. Lembro das covinhas que aparecem enquanto ele
sorri. Lembro da maneira que ele fumava. Lembro da gola do casaco levantada.
Lembro que nunca tinha o percebido antes. Lembro de todos os detalhes. Lembro
de todos os cheiros. Lembro de mim estática, com um copo de vodka na mão,
desmoralizada perante todas as minhas crenças, sendo obrigada a admitir que foi
amor à primeira vista, da forma mais simples e agora aceitável.
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